Nos últimos anos, falar sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA) se tornou mais comum que até uma década atrás. Entretanto, frases como “fulano tem cara de autista”, “ciclano tem jeito de autista”. Elucidar à sociedade sobre o assunto é necessário, pois além de serem expressões extremamente capacitistas, acreditar nesse tipo de afirmação só confunde as pessoas – e também atrasa o diagnóstico de algumas crianças com TEA que, pelos pais e responsáveis acharem que se seu filho não apresenta alguma característica que as pessoas julgam “comuns” a quem se encontra dentro do espectro, acabam atrasando a procura por médicos e especialistas.
Bárbara Calmeto, neuropsicóloga e diretora do Autonomia Instituto, explica que não, o autismo não tem cara. “Avaliar o TEA por imagens é impossível. Além disso, dizer que uma criança tem ou não comportamento de autista também não tem nenhum sentido, pois o diagnóstico é feito em cima de diversas análises neurológicas e testes presenciais. Não existe sinal padrão de autismo visível. Há, inclusive, uma diversidade enorme de comportamentos observados por um profissional na hora do diagnóstico, que podem partir do olhar, da verbalização etc. Além disso, é muito importante dizer que autismo não significa mau comportamento”, explica. E complementa: “Dizer que alguém tem ou não TEA baseado em birras com os pais é preconceito e capacitismo. As pessoas não fazem ideia do que seja o autismo e continuam perpetuando pensamentos já ultrapassados, como se toda criança com TEA fosse birrenta ou apresentasse os sinais considerados clássicos há alguns anos, como a nao verbalização ou a falta de contato visual”.
É importante dizer, porém, que pais e professores, que normalmente têm um contato mais direto com a criança, podem, sim, identificar alguns “sinais de alerta”, que já aparecem nos primeiros anos de vida. Abaixo, Bárbara sinaliza alguns desses sinais. “Há diversos níveis de autismo, e alguns são realmente mais difíceis de perceber quando não se acompanha a criança de perto. Muitas vezes o diagnóstico, e consequentemente o tratamento, vem tarde porque as pessoas ainda têm esse pensamento antigo de que o autismo ‘tem cara’ ou ‘fulano tem jeito de autista’.
Pessoas com o TEA nível 1, por exemplo, podem apresentar apenas dificuldades em situações sociais que muitas vezes podem ser confundidos com timidez. Outras têm comportamentos restritivos e repetitivos que podem parecer perfeccionismo apenas. Portanto, embora a necessidade de suporte seja menor nesses casos, isso não significa que a pessoa com Autismo nível 1 não precise buscar intervenções de um especialista para lidar melhor com diferentes questões que apareçam em suas vidas”, destaca a neuropsicóloga. Ela diz, ainda, que nesses casos, muito frequentemente, existe a dificuldade de membros da família e amigos acreditarem no diagnóstico. “Isso porque, muitas vezes, os déficits são sutis e, normalmente, se tornam mais evidentes apenas na fase da adolescência e vida adulta, quando a pessoa passa a ser mais exposta e cobrada sobre as relações sociais mais sutis, como por exemplo, uma gíria usada pelos amigos, uma piada, uma brincadeira onde um debocha do outro (coisa comum na adolescência)”, exemplifica.
Abaixo, Bárbara lista algumas características que podem ser observadas em crianças. “Ter uma ou mais dessas características não vai, exatamente, significar o TEA, mas é preciso buscar ajuda profissional para um diagnóstico mais preciso”, avalia:
1. Dificuldades na flexibilização de regras;
2. Gostam de manter padrões; 3. Dificuldades na interação social com diversas pessoas; 4. Podem ter estereotipias; 5. Podem ter dificuldades em entender piadas, ironias, sarcasmo.