Quer ajudar? Então, prepare-se. Porque você pode!

Apatia, desânimo, preguiça, angústia, tristeza, mau humor, irritabilidade, agressividade, ausência de prazer, isolamento social, dificuldade de concentração, redução na memória e no raciocínio, diminuição da produtividade, fadiga, cansaço físico e psíquico, pensamentos negativos recorrentes, desesperança, ideias de fracasso, culpa, choro fácil ou preso, alterações no sono, dormir tarde e acordar tarde, sonolência diurna, alterações no apetite, ganho ou perda de peso, dores em geral, queixas físicas, agonia na cabeça.

A manifestação daqueles sintomas, suas variantes e desdobramentos podem sinalizar que estamos diante de um caso de depressão, perante alguém que precisa de ajuda, embora, muitas vezes, a grande maioria das pessoas que sofre desse transtorno não se aperceba disto e, por essa razão, dispense ou rejeite todo o auxílio que tentar lhe chegar, mesmo assim não desista!

É necessário e muito importante que familiares e amigos estejam bem informados a respeito do assunto e saibam reconhecer, distinguindo das características da personalidade, a manifestação de sintomas desde os mais leves no caso da distimia, podendo, deste modo, ajudar de várias maneiras inclusive a encontrar um tratamento médico adequado. Comecemos por entender o comportamento como sendo, resumidamente, a interação do indivíduo com o mundo. Podemos ainda dizer que comportamento é ação, expressão do pensamento que, por sua vez, é influenciado pelo sentimento – juízo consciente das emoções que, na maioria das vezes, chegam às pessoas de modo inconsciente. Portanto, pensamento gera sentimento que gera comportamento; concluindo-se que a qualidade dos pensamentos é refletida na qualidade do comportamento.

Uma parte do comportamento do indivíduo é observável, é percebida por exteriorizar-se. Outra parte é íntima, privada, interna, acessível somente pelo próprio ser, só será exteriorizada a partir do seu relato ocorrendo somente se o sujeito tiver interesse de comunicar isto a outra pessoa. Entender um pouco mais sobre como essa comunicação pode se dar contribuirá com o desenvolvimento da confiança entre aquele que se encontre em depressão, seus familiares e amigos despertando nele o interesse em conversar com alguém.

Multicausal, esse transtorno desequilibra a química cerebral e pode ter suas origens em questões ambientais, genéticas, fatores estressores, perda ou luto, situações não resolvidas nem assimiladas, frustrações, dentre tantas ou, até mesmo, nenhuma destas. Por quaisquer outras que sejam produzem dor e sofrimento extenuantes exigindo respeito, compreensão e amparo.

O cérebro possui mecanismos que servem de filtro pra fatos, eventos, informações tão somente necessárias ao que estivermos pensando e faz uso do Sistema de Ativação Reticular – SAR – de maneira que a atenção seletiva daquele que se encontra em estado de tristeza, ansiedade ou depressão, tem o seu foco direcionado apenas para situações ruins, desfavoráveis, fazendo-o pensar em tudo que possa lhe servir de razão e motivo a permanecer naquela condição, o que acentua o estado depressivo.

Alterar a sua atenção seletiva para experiências boas, experiências positivas não é fácil em razão do atual modelo mental com padrão negativo, sob o qual o cérebro está atuando. Ainda que aparentemente paradoxal, este estado parece confortável ao depressivo e favorece a preguiça mental, por isso modificar este padrão requer esforço e é tudo que o cérebro não quer. Esse esforço somente será alimentado, nutrido, pela vontade que, por sua vez, precisa ser habilmente estimulada por quem desejar ajuda-lo.

A partir do momento em que se quiser mudar, o cérebro redireciona as suas atividades compatibilizando-as com o novo modelo mental fazendo uso do SAR para filtrar, desta vez, situações, fatos, eventos, informações e experiências positivas. Por isto é fundamental àqueles que o cercam contribuírem com a sua autoestima, valorizando os acertos, os sucessos, os êxitos, os avanços as conquistas atuais e anteriores, ressaltando a potencialidades, competências, capacidades, sem, no entanto, parecer piegas, demagógico, superficial ou hipócrita.

A psicoeducação intervém de forma a educar o paciente, sua família, cuidadores, por que não amigos, sobre a depressão, seu diagnóstico, prognóstico, tratamento e estratégias que empoderem o portador do transtorno e substituam o sentimento de culpa por responsabilidade, a negação pela real consciência, inserindo no processo o cuidado coletivo e propiciando maior adesão até dos mais renitentes. Amparo hábil da família auxiliando o portador de depressão a sair de dentro dele de maneira afável e empática, sem exigir o que ele não consegue fazer, não levar a conversa em tom de brincadeira, manter diálogo amigável, compreensivo, respeitoso, evitar palavras que possam machucar, mostrar-se presente, fazê-lo ver que você está ali para ajuda-lo é determinante no estímulo ao diálogo e à recuperação.

A ajuda passa, também, por incentivá-lo a procurar ajuda médica psiquiátrica e, ou psicoterapêutica, auxiliá-lo na busca de questões da vida que possam ter causado a sintomatologia, acompanhar o tratamento e uso de eventual medicação. Paciência, sensibilidade, propiciar a prática de atividades lúdicas em seu cotidiano, entrar frequentemente em contato com a natureza, implementar atividades físicas, são práticas saudáveis e contributivas.

Se possível, formar um grupo de amigos que entendam o que se passa, se mostrem disponíveis, interessados e presentes, o estimulem a sair, despertem a sua vaidade, levem alegria, induzam o ânimo e tentem sinceramente fazê-lo sorrir. Fornecer apoio emocional, escutar, estar com ele, entendê-lo com muita calma e paciência, compreendendo que ele precisa se abrir estimulando-o a conversar. Cuide para responder de maneira inteligente, sincera porém amável, às questões que ele venha a apresentar. Mostre e demonstre, fazendo-o perceber a sinceridade do seu amor por ele, da sua real e pura intenção em querer vê-lo bem e novamente reinserido à sua funcionalidade, demonstre que isto é possível de forma segura, amorosa, sincera e, sobretudo, racional.

Esteja certo e preparado para ouvir relatos e argumentos pessimistas, desesperançosos, tristes e vazios. Interponha habilmente mostrando a real possibilidade de reversão da situação e que, por você acreditar nesta probabilidade está ali com ele.

Cuidado para não apresentar motivações banais que não o colocarão em movimento na busca pela recuperação, a exemplo de: Você não tem nada… Isso é passageiro… Coisa da sua cabeça… Vamos, levante-se daí! Pare de ser pessimista… Não faça drama… Nada disto surtirá o efeito desejado e esta banalização agravará a situação prejudicando o estabelecimento da confiança necessária entre ele e quem pretende ajuda-lo.

Não o compare a ninguém. Esforce-se em não usar o discurso acusador: Você está com frescura… Você está se fazendo de vítima… Não é o fim do mundo como você está fazendo parecer… Você está se depreciando… Você está fazendo errado… Você não está se ajudando. Altere para: Eu credito em você… Eu espero lhe ver fortalecido… Eu sei que você pode animar-se… Estou certo de que você sabe a escolha ideal…

Faça-o sentir-se amado, especial, único, cativante, agradável, carismático, capaz, orgulhoso de si. Dê apoio físico auxiliando-o a se divertir e a fazer o que gosta; ainda melhor é estimulá-lo a fazer, com supervisão, coisas diferentes do que estava habituado: Stand up, pintura, patins ou outras atividades.

Sugira-lhe mudar o perfume, os roteiros, os trajetos, os horários, o ambiente, a disposição dos móveis e dos objetos, as cores das paredes optando pelas mais claras possíveis. Com o seu consentimento, auxilie-o a se desfazer de tudo aquilo que não tenha usado há mais de seis meses ou que lhe traga lembranças de um passado ido que lhe provoque ressentimentos – sempre tóxico, lesivo e angustiante.

Jamais menospreze a dor do outro, esta é a pior das posturas. Não entre em rota de colisão com ele, não o contrarie senão quando imprescindível e, neste caso, amorosamente. Se necessário redirecionar os seus pensamentos, escolhas e decisões, tente convidá-lo sutilmente ao analítico: Eu penso que a alternativa mais adequada seria esta, o que você acha? Qual a sua opinião sobre em lugar de assistirmos a um filme em casa, fossemos ao cinema?… Gosto de dirigir o seu carro, seria bom ter um motorista? Vamos tentar fazer isso de outra forma? O que este filme lhe faz sentir? O que você acha de assistirmos a uma comédia para darmos boas risadas?

Lembre-se de levar uma dose de humor e descontração sem no entanto parecer superficial, irônico ou desrespeitoso com a situação dele. Senso de oportunidade e o próprio bom senso deverão estar presente a todo instante.

A religiosidade que está ligada a sentimento, vinculação arquetípica a uma divindade, canalização da energia interior ao divino, conexão ou forma de conectar-se a um Deus, deve se fazer presente e se revela eficaz por quanto a sua contribuição no processo terapêutico é evidente e reconhecida pela comunidade científica, em especial dentre profissionais da psicoterapia.

Não esqueça de si mesmo. Ajudar a quem se encontra em um estágio depressivo é um trabalho emocional e consome por demais energia psíquica, que precisará ser constantemente reposta, e isto pode lhe dar a sensação de cansaço, esgotamento e desânimo. Muitas vezes você se sentirá tentado a desistir de tudo e abandona-lo, portanto cuide muito bem de si mesmo. Revigore-se, fortaleça-se emocionalmente fazendo-se entender que a situação é dele de forma que você não a internalize ou a tome para si.

Este ponto de corte precisa ficar bem claro, bem definido e faze-lo ver, sem culpa, que você está de fora exercendo o papel de quem ajuda. Tomar para si as dores do outro, lamentar-se, entristecer-se, absorver e anular-se não é caridade, não lhe ajudará, nem a ele, ao contrário, o deprimirá mais por saber estar fazendo sofrer a quem ama e lhe distanciará do seu nobre objetivo em auxiliá-lo a sair daquele mundo pessimista em que se encontra. Exerça a sua individualidade e não abra mão dela.

Não desista de falar. Não desista por ele não o ouvir. Simplesmente não desista. Por estarem assim escutam o que querem escutar, mas o seu eu interior, sua consciência, seu ego, ouve e concorda, só não tem forças para mudar naquele instante, mas ficará guardado e surtirá efeito em algum momento, quando menos se espere.

Robson Cunha é Terapeuta Transpessoal

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