SAÚDE NO AR

Mecânico de automóveis inventou aparelho que pode salvar a vida de milhões de bebês

O mecânico argentino, Jorge Odón,  inventou um aparelho que pode salvar a vida de milhões de bebês e mães que morrem durante o nascimento.

Jorge Odón almoçava com os funcionários da sua oficina mecânica, quando um deles propôs um desafio: tirar a rolha de dentro de uma garrafa de vinho vazia sem quebrá-la. 

O funcionário colocou uma sacola plástica no interior da garrafa (deixando para fora a ponta com as alças), inclinou levemente o recipiente para que a rolha encostasse no plástico e começou a assoprar dentro da sacola. Um puxão nas alças e voilà: a rolha estava em sua mão.

 Naquela noite, o mecânico de 60 anos e pai de cinco filhos acordou de sobressalto com uma ideia:  “Acordo no meio da madrugada com a solução para um problema sobre o qual passei o dia pensando.” Foi assim que surgiu o OdónDevice, um aparelho que parece um desentupidor de pia com uma sacola plástica enrolada e que substitui o fórceps e a ventosa durante o parto. Mais do que isso, ele pode ajudar a evitar a morte de cinco milhões de recém-nascidos e 150 mil mães ao ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. 

Com a aprovação de um médico, os dois sócios começaram a trabalhar no projeto na oficina de Odón, entre uma troca de freio e um ajuste de motor. Primeiro tentaram com uma jarra de vidro grande e um bonequinho. Depois, passaram a um útero de vidro, encomendado de um artesão, do qual tentavam retirar Luna — a boneca preferida de uma das filhas do inventor. Passavam horas fechados no banheiro. “Meus funcionários começaram a achar que eu tinha ficado louco”, diz Odón. Apesar de rudimentar, o protótipo parecia funcionar — e os dois saíram em busca de novos aliados na medicina.

Frente à insistência, ofereceu aos inventores 10 minutos do seu tempo para um bate-papo numa pequena sala de um hotel cinco estrelas. O encontro estendeu-se por quase duas horas. Merialdi tornou-se o principal apoiador da ideia, e logo pediu a Schvartzman e Krupitzki que trabalhassem para elaborar os protocolos necessários à aprovação do novo dispositivo pela OMS. A primeira missão era provar que ele não era prejudicial à criança ou à mãe. Para isso, Odón e seu time foram levados a Desmoines, nos Estados Unidos, onde uma máquina reproduz em detalhes todas as fases do parto, incluindo as possíveis complicações. O OdónDevice foi aprovado com louvor (veja como o aparelho funciona ao lado) e passou a ser testado em 30 mulheres na Argentina. O mecânico assistiu a todos os partos, fazendo alterações necessárias no aparelho, que será produzido a um custo de US$ 50 pela empresa norte-americana BD (Becton, Dickinson andCompany). O preço foi uma exigência de Odón para que o aparelho seja usado em países em desenvolvimento, que são aqueles que mais sofrem com os óbitos durante o parto.

A empolgação em torno do projeto tem uma explicação: a lista de benefícios trazidos pelo OdónDevice. O aparelho pode reduzir drasticamente a incidência dos três principais fatores de morte materna durante o processo de nascimento: a hemorragia pós-parto, as infecções de útero e o parto obstruído. Outro efeito positivo é o de limitar o contato do bebê com as mucosas do canal de parto, a principal causa de transmissão do vírus HIV ao recém-nascido. Isso significa condições de parto mais seguras para a mãe e o bebê, sobretudo nos países onde os medicamentos retrovirais não são tão acessíveis. Sem falar que ele pode reduzir o número de cesarianas, procedimento caro e usado sem critério pelos médicos em países em desenvolvimento, como o Brasil. Agora, os inventores se preparam para o início da segunda fase dos testes, que se estenderá até o final do ano. Escolhidos aleatoriamente, dois grupos de mulheres na primeira gestação serão objeto do estudo: o primeiro grupo terá seu parto realizado com os meios disponíveis hoje na medicina, enquanto o segundo grupo terá o OdónDevice aplicado sistematicamente.

Enquanto aguardam os resultados dos testes, a vida de todos os protagonistas desta história mudou drasticamente. Mario Merialdi, o médico da OMS que deu o apoio inicial ao projeto, deixou o cargo para trabalhar na Becton, Dickinson andCompany, supervisionando o desenvolvimento e produção do aparelho. Schvartzman e Krupitzki decidiram permanecer à frente do time de experimentos e são convidados para conferências e simpósios em todo o mundo. Nenhum dos dois tem participação nos lucros, mas isso não parece ser motivo de preocupação. “A ideia de ter contribuído para uma invenção que pode mudar a história da medicina não tem preço”, afirma Schvartzman. “Essa é a maior recompensa.” Mas quem passou pela mudança mais radical, claro, foi o agora ex-mecânico de Banfield, Jorge Odón. Ele vendeu a oficina ao filho e agora se dedica à sua invenção. Sua história foi parar na primeira página do jornal norte-americano The New York Times, e a revista Forbes acabou de colocar o OdónDevice entre as cinco invenções mais interessantes no mundo. Odón já não se sente um peixe fora d’água quando faz reuniões com médicos e cientistas de todo o mundo. “Percebi que ter a formação de mecânico é uma vantagem, somos inventores natos”, afirma ele. Depois de tantas visitas a salas de partos, o inventor está gestando outra ideia que, espera, repetirá o sucesso de sua primogênita. Mas, pelo menos por enquanto, prefere não falar sobre o assunto.

Fonte: Revista Gallleu

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