Antônio Gois e os líderes na escola

Antônio Gois e os líderes na escola

Anísio Teixeira viajou para os Estados Unidos da América pela primeira vez em 1927. A partir daquela viagem se aproximou da Universidade Colúmbia, em Nova York, lócus a no qual desenvolveu parte importante dos estudos que o transformaram num dos nomes da maior relevância da Educação brasileira.

Quando Anísio viajou para Colúmbia, Gilberto Freyre de lá já havia regressado com tese defendida e título de doutor, orientado pelo festejado antropólogo Franz Boas. A tradição inaugurada por Freyre e por Teixeira fez com que muitos brasileiros ao longo do século XX e nos primeiros anos deste século XXI buscassem dialogar com estudos realizados a partir da Universidade Colúmbia.

O Brasil sempre esteve na pauta de reflexões dos pesquisadores daquela instituição. Muitos investigadores brasileiros dedicados a Educação lançaram o olhar sobre os processos de estudos e o pensamento difundido a partir da celebrada Universidade Colúmbia.

Nos primeiros anos do século XXI são muito importantes os estudos realizados pela pesquisadora Mirian Jorge Warde acerca da interlocução estabelecida em Colúmbia por Anísio Teixeira e outros intelectuais da Educação brasileira durante a primeira metade do século XX, em face dos estudos realizados por John Dewey e da incorporação que aquele norte-americano fez das reflexões filosóficas de William James.

Acabo de me deparar com outro importante estudo a respeito da Educação brasileira realizado na Universidade Colúmbia, evidentemente com um outro viés de abordagem e outros objetivos. Neste final de semana concluí a leitura do livro LÍDERES NA ESCOLA: O QUE FAZEM BONS DIRETORES E DIRETORAS E COMO OS MELHORES SISTEMAS EDUCACIONAIS DO MUNDO OS SELECIONAM, FORMAM E APOIAM.

O trabalho tem a assinatura de Antônio Gois, jornalista especializado em Educação que, desde 1996, pesquisa e escreve sobre Educação brasileira. Bolsista da Spencer Education Journalism Fellowship, Gois trabalhou durante dois anos baseado na Universidade Columbia, estudando os problemas de gestão escolar em seis países: Brasil, México, Chile, Canadá, Singapura e Estados Unidos.

Os resultados de tais estudos foram apresentados no livro publicado em 2020 pela Editora Moderna, sob o patrocínio da Fundação Santillana, com prefácio de André Lázaro. Fundador e primeiro presidente da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), Antônio Gois é, indiscutivelmente, o mais importante dentre os jornalistas brasileiros dedicados ao tema.

Neste livro aqui apresentado, Gois discute em 13 capítulos o papel que exerce em diferentes países o diretor de escola na condição de líder, mostrando o que fazem, como fazem, como são formados e que tipo de suporte institucional recebem para que consigam a contento cumprir o papel que o exercício da função impõe.

O autor, como bom jornalista que é, extrai parte expressiva do conteúdo trabalhado entrevistando mulheres que cumprem diferentes papéis como diretoras escolares, professoras, mães, pesquisadoras e coordenadoras de centros de formação. Ao fazê-lo demonstra que questões como pobreza e desigualdade impactam elevadamente a escola pública brasileira, mas também continuam a ser problemas presentes mesmo em sistemas escolares como o da cidade de Nova York e outras periferias urbanas dos países analisados.

A boa formação acadêmica que possui leva Gois a não secundarizar o relevante papel da pesquisa científica realizada no ambiente universitário. Assim, os seus estudos estão ancorados em bibliografia atualizada e de elevada qualidade, oferecendo o suporte teórico necessário aos que desejam maior aprofundamento.

Dentre outras conclusões acerca das quais devemos refletir, Antônio Gois chama a atenção para a indissociabilidade existente quanto aos processos de formação dos dirigentes escolares e os seus nexos com remuneração e outras formas de reconhecimento profissional e social. As soluções criativas são importantes, mas insuficientes enquanto o Brasil não adotar sistemas de suporte institucional eficazes.

A leitura vale a pena e é muito relevante para todos que costumam lançar o olhar sobre a escola.

 

Por: Jorge Carvalho do Nascimento; Jornalista, professor universitário, doutor em Educação, presidente da Academia Sergipana de Educação e membro da Academia Sergipana de Letras.

 

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal Saúde no Ar

 

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