Antonio Pedreira
É provável que você não só tenha ouvido este conselho para aplacar a sua raiva e evitar os males decorrentes da sua expressão verbal e/ou corporal, mas também já tenha comprovado, na prática, a eficácia desta dica: respirando bem fundo e contando, pausadamente, de 1 a 10. Funciona bem, até mesmo nos casos de sequestro cerebral, ou seja, naqueles momentos em que a mente emocional assume a sua mente racional (vide detalhes no livro da nossa autoria, COMPETÊNCIA EMOCIONAL, páginas 60 e 61). A interpretação transacional é bem clara na duplicidade da mensagem: respirar e fazer uma contagem.
1ª) RESPIRE FUNDO – significa atuar de modo consciente e deliberado para que os músculos inspiratórios, principalmente o diafragma e a musculatura da chamada prensa abdominal (= grande reto abdominal, grande oblíquo, pequeno oblíquo e transverso do abdome) sejam acionados por ordem do córtex cerebral. Ou seja, o seu ego Adulto seja encaixado. Aliás, convém observar a importância da respiração em todos os ensinamentos seculares que nos chegam do Oriente através da Htha Yoga, do Zen Budismo, das técnicas de Meditação Transcendental, etc. É que, normalmente a respiração é uma função vegetativa cujo ritmo é controlado automaticamente pelo sistema nervoso autônomo, mas que também é possível de ser alterado por interferência do sistema nervoso central. Em outras palavras, pode haver acelaração ou redução voluntária do número de movimentos respiratórios, através da ação do córtex cerebral sobre os músculos respiratórios. Alguns Iogues chegam até a parar os próprios batimentos cardíacos, mediante interferência na frequência e na profundidade da sua respiração.
2ª) CONTE ATÉ DEZ – é também outra manobra capaz de encaixar o seu egoAdulto, pois o simples ato de contar até dez, consiste em evocação de gravações antigas depositadas em neurônios do córtex cerebral, lobo frontal. Na dependência da intensidade da emoção, esta simples contagem transfere o poder executivo da Criança adaptada (sistema límbico) para o Adulto (= córtex cerebral). Em certas ocasiões, talvez seja necessário contar até dez de novo, e respirar bem fundo, para neutralizar a carga emocional por completo.
De resto, a mudança do quadro de referência, propiciada por estas duas manobras, se já funcionam isoladamente, levando o indivíduo a sair do mal-estar, quanto mais em conjunto. Confira!
Uma aplicação prática deste conselho tradicional e que merece especial atenção, comentaremos, a seguir, no que se refere às punições aplicadas contra crianças. Pais que são adeptos dos castigos físicos para educar os filhos – quando sentirem o ímpeto raivoso para aplicar um castigo físico – é bom lembrar que, além de estar dando um modelo de violência, acaba não corrigindo. Vira um ato de vingança proporcional ao grau de sua irritação.
Se o acesso raivoso atingir níveis altos, conhecidos como acesso de cólera ou de ira, tende a ofuscar a mente racional, que será momentaneamente dominada pela mente emocional. É assim que a emoção cega a razão. Aqui, é que a inteligência emocional se revela como treinamento eficaz para evitar que o nível da raiva seja descontrolado. Caso não seja possível reprimir o furor raivoso, poderá pelo menos moderá-lo, para que não prejudique a saúde do corpo e o sossego da própria vida.
É de Confúcio esta reflexão: Aquele que reprime os ímpetos da cólera está coberto de qualquer perigo. É conveniente saber sufocar, ou ao menos moderar a cólera, o temor, a tristeza, e outras agitações profundas que podem alterar a paz da alma.
Psicoterapeuta Antonio Pedreira é médico, psicoterapeuta educador e escritor.
Informações pelo telefone (71) 3331-6655, email atpedreira@uol.com.br ou o site www.antoniopedreira.com