Ozonioterapia em discussão

Ozonioterapia em discussão

Alvo de polêmicas, a ozonioterapia ou oxigênio ozonioterapia, de acordo com informações prestadas pela Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ), é uma técnica terapêutica que utiliza a aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, também conhecido como ozônio medicinal. Integrando uma das 29 modalidades de Práticas Integrativas e Complementares oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o assunto levanta posições a favor e contra, e os profissionais que a utilizam afirmam fazerem uso no tratamento de diversas patologias, podendo ser aplicada de modo isolado e complementar.

Dados demonstram que ela é utilizada em países desenvolvidos para fins medicinais com propriedades anti-inflamatórias, antissépticas, modulando o estresse oxidativo e melhorando a circulação periférica e a oxigenação, com benefícios comprovados em inúmeros estudos. “Existem, por exemplo, áreas muito interessantes de aplicação da ozonioterapia que são as dores lombares e as hérnias de disco. Citando apenas um estudo, existe uma meta análise realizada em três centros consagrados do mundo nos países do Canadá, Estados Unidos e Itália”, declara a médica, otorrinolaringologista, diretora de Comunicação do Movimento Ozonizados do Brasil, fundadora, ex-presidente e membro do Conselho da Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ), Maria Emília Gadelha Serra.

Problemas circulatórios, dores articulares decorrentes de inflamações crônicas e até alguns tipos de câncer também recebem indicação para o tratamento. O tema aparece em vários protocolos gerais baseados em evidências, e em um deles, divulgado em março deste ano, afirma que “é evidente que os peróxidos de ozônio associados à membrana, os 4-hidroxialqualenos, o ânion superóxido, o óxido nítrico, entre outros, desempenharão um papel importante nos sinais celulares, assim como na patologia de diferentes doenças. A regulação dessas biomoléculas pelo pré-condicionamento de ozônio tem sido demonstrada em vários estudos pré-clínicos e clínicos como fenômeno de isquemia-reperfusão, Parkinson, demência senil, hérnia de disco, retinite pigmentosa, cardiopatia isquêmica, insuficiência arterial, diabetes, osteoartrite, asma, síndrome vestibulococlear, entre outros. A modulação do óxido nítrico, assim como o aumento dos receptores de adenosina A1 obtidos com essa terapia, tem papel importante no fluxo sanguíneo cerebral, na formação da memória, na liberação de neurotransmissores e nos processos inflamatórios. A ozonioterapia parece induzir uma ressuscitação simultânea de funções que deram errado, reativando e reequilibrando as atividades fisiológicas”.  Confira outro artigo: 10.0000@ojs.uv.es@generic-B505A142DD08 (4)

Mesmo com estudos divulgados em artigos científicos comprovando seus benefícios, a técnica divide opiniões. No último dia 10, o Diário Oficial trouxe publicada a Resolução CFM nº 2.181/2018, que define a ozonioterapia como um procedimento que pode ser realizado apenas em caráter experimental. Isso implica que tratamentos médicos baseados nessa abordagem devem ser realizados apenas no escopo de estudos que observam critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (CREMEB), Júlio Cesar Vieira Braga, avalia que “existe uma lei federal que determina que o Conselho Federal de Medicina (CFM) deva fiscalizar a prática da medicina, e umas dessas coisas que o Conselho faz é avaliar se cada uma das intervenções é ou não benéfica com documentação científica para que seja recomendada e utilizada por médicos”. Entre as condições previstas pela norma está a concordância dos participantes com as condições em que a pesquisa será realizada, a garantia de sigilo e anonimato para os que se submeterem à prática, a oferta de suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos e a não cobrança do tratamento em qualquer uma de suas etapas. A entrada em vigor dessa Resolução reforça a proibição aos médicos de prescreverem procedimentos desse tipo fora dos padrões estabelecidos pelo CFM. O desrespeito à norma pode levar à abertura de sindicâncias e de processos éticos-profissionais contra os infratores.

“O CFM deveria zelar pela prática ética dos médicos e defender a possibilidade da população brasileira ter acesso a técnicas consagradas no exterior. Ao longo dos últimos 12 anos, enviamos todos os materiais e infelizmente não houve um comportamento imparcial em relação à análise desses documentos. Nós lamentamos essa postura do CFM em proibir os médicos cerceando o seu direito e essa responsabilidade vai ser devidamente apurada na justiça brasileira”, afirma Maria Emília. De acordo com a especialista, a ozonioterapia já foi regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) desde dezembro de 2015, podendo ser aplicado na boca, gengiva e tratamento de necroses ósseas dentro da odontologia. Para ela, existe um conflito de interesses acerca da temática. “A Câmara Técnica de Ozonioterapia tem como um dos membros um médico em conflito de interesses com a indústria de curativos, por que seguramente vai perder muito dinheiro uma vez que a ozonioterapia seja instituída no nosso país. Isso seria um benefício para os pacientes, mas infelizmente vai ser um malefício para o bolso dessas indústrias”.

Países como Portugal, Espanha, China, Rússia e Cuba já possuem a terapia incluída no sistema público de saúde há décadas, reconhecida e consagrada pelo Ministério da Saúde local. O famoso jogador de futebol português, Cristiano Ronaldo, diz ter se utilizado da técnica para fins medicinais. “A fim de propagar informação imparcial e de qualidade sobre a ozonioterapia, foi criado o Movimento “Ozonizados do Brasil”, para que pessoas possam compartilhar suas histórias e experiências, disseminando a verdade sobre o ozônio medicinal e somando forças na luta pela regulamentação da terapia como procedimento médico por todo o território brasileiro”, diz a médica. Para o hepatologista do Complexo Hospitalar Universitário Prof. Edgard Santos – Serviço de Gastro-Hepatologia – (Hupes), Dr. Raymundo Paraná, em declaração exclusiva enviada à redação do Saúde no Ar, “o debate acerca da ozonioterapia como de qualquer outra proposta terapêutica, alopática ou não alopática, não deva ser baseado no simplismo do a favor x contra. Isso não existe em medicina, pois, em medicina, o debate precisa ser cientifico, portanto ele deve ser baseado naquilo que é comprovadamente definido através de estudos científicos muito bem adequados do ponto de vista metodológico. A isso chamamos de Medicina baseada em evidencia cientifica”.

Quando perguntado sobre o uso em seus pacientes, o médico disse que “quando falo da Ozonioterapia, estou falando única e exclusivamente da minha área, pois não conheço este método em outras áreas que não seja a da Hepatologia (doenças do fígado). Nas doenças do fígado posso afirmar que não tem nenhum espaço para o uso dessa proposta terapêutica até o momento, como também não é possível, neste momento, compreender a sua justificativa fisiológica e a sua ação nos mecanismos fisiopatológicos das doenças hepáticas”. Conheça o documento: Ozonioterapia. A médica Carla Suzane, diretora clínica do Núcleo de Assistência Terapêutica Humanizada (Nath), tem uma experiência pessoal com o ozônio, fazendo uso há dez anos. “Os benefícios são inúmeros, mas também entendo que o papel do CFM é estar aberto a ouvir esses profissionais médicos que tem experiência ao longo desses anos. Pude evidenciar melhoras em pacientes com fibromialgia associada com outras técnicas. Ela é complementar a outras técnicas. O Conselho de Medicina tem que estar alerta para não acontecer o que aconteceu com a homeopatia e a acupuntura, que a princípio foi rejeitado, excluído, e hoje nós vemos que vira uma prática com profissionais médicos e não médicos que estão no mercado”, conclui.

Ouça áudio com Carla Suzane na íntegra:

 

O assunto foi tema do Programa Saúde no Ar da última sexta-feira (13.07) e contou com as participações da médica, otorrinolaringologista, fundadora, ex-presidente e membro do Conselho da Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ), Drª. Maria Emília Gadelha Serra, Dr. Júlio Cesar Vieira Braga, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (CREMEB), e Ezequiel Oliveira, físico-médico e colunista do Programa Saúde no Ar.

Ouça:

Assista vídeo:

Saiba mais :

Medicina baseada em evidências 

www.ozonizados.com.br.

Texto: Ana Paula Nobre (SRTE-BA 3638)

Fontes: Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ)/Conselho Federal de Medicina (CFM)/ Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (CREMEB)

Redação Saúde no Ar

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