Energia nuclear e seus riscos

Energia nuclear e seus riscos

Não por acaso, o acidente de Fukushima despertou a atenção do mundo para os problemas da energia nuclear, ainda hoje são muitas as dúvidas sobre o tema: quais os riscos desse tipo de acidente? O Brasil está protegido? Ao que parece estamos andando na contramão da história, enquanto o resto do mundo abandona gradativamente a energia nuclear, por conta dos riscos envolvidos, no Brasil aumenta a pressão pela retomada da obra de Angra 3.

A terceira usina nuclear planejada pela ditadura em Angra dos Reis é um assunto envolvido em muitas polêmicas. As obras, interrompidas nos anos 1980, foram reiniciadas em 2010 e após vários percalços novamente interrompidas em 2016, por dificuldades financeiras do governo e pela descoberta de corrupção na Eletronuclear. O projeto autorizado em 2010, foi na verdade desenvolvido na década de 70, anteriormente aos dois grandes acidentes nucleares de 1979, em Three Miles Island, Estados Unidos, e 1986, em Chernobyl, União Soviética, que revelaram deficiências nos projetos das usinas construídas até então.

Segundo o parecer técnico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) o  projeto de Angra 3 deveria passar pelo crivo das normas de segurança editadas pela Agência Internacional de Energia Atômica , que após esses dois acidentes, teriam como objetivo evitar ou minimizar os efeitos desses chamados “acidentes severos”, que acontecem por “falhas múltiplas” encadeadas e que  podem levar à fusão do reator e à sua explosão, com disseminação de partículas radioativas no ambiente, e configurar uma verdadeira catástrofe social, econômica e ambiental, com efeitos danosos em grandes territórios, por décadas e mesmo séculos.

Em Three Miles Island o reator não chegou a fundir inteiramente e explodir, mas no acidente de Chernobyl há estudos que contabilizam cerca de um milhão de vítimas ao longo dos anos seguintes. Entre outros devastadores efeitos, os 48 mil habitantes de Pripyat (hoje uma cidade-fantasma) tiveram de deixar às pressas, para sempre, suas casas e tudo o que possuíam.

O território num raio de 30 quilômetros foi interditado por 300 anos. E a nuvem radioativa então expelida cobriu toda a Europa. O Brasil, inclusive, chegou a importar, sem saber, leite radioativo da Irlanda.

Em 1987 em Goiânia, apenas 19 gramas de césio-137 (uma das partículas espalhadas pela nuvem de Chernobyl), retiradas de um aparelho de radioterapia abandonado, foram suficientes para causas quatro mortes nos primeiros dias e até hoje provocam amputações e mortes de contaminados.

Pouco depois, em 2011, um terceiro “acidente severo”, em Fukushima, no Japão, evidenciou novamente o perigo latente nas usinas nucleares. Três reatores fundiram e explodiram, em dias seguidos. Centenas de milhares de habitantes foram evacuadas num raio de 40 quilômetros. Chegou-se a temer ser necessário evacuar Tóquio. E a luta do Japão frente às consequências do acidente não está perto de terminar.

Segundo o Relatório Anual sobre o Estado da Indústria Nuclear de 2017, o aumento dos custos por exigências de segurança leva essa indústria ao declínio. A Alemanha, depois de Fukushima, decidiu fechar suas usinas nucleares, iniciando por aquelas de maior risco, como a de Grafenrheinfeld, similar a Angra 2 e 3. Nem assim aqui no Brasil foi revista a decisão de reiniciar a obra sem readequar o projeto.

A Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA editou normas para evitar tais acidentes ou pelo menos mitigar seus efeitos. O Brasil deveria fazer o dever de casa e  adequar o projeto de Angra 3 a essas normas indicadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, mas apesar dos riscos, esse parecer foi engavetado e o licenciamento concedido.

“Na infelicidade de algo ocorrer em Angra 3, as vítimas serão os moradores da região e também os do Rio ou de São Paulo, segundo queiram os ventos… Que em 2018 não permaneçamos silenciosos! É uma exigência de cuidado com a vida humana”, Chico Whitaker  -Integrante da Comissão Brasileira Justiça e Paz.

O assuntochico-whitaker foi tema do quadro “Meio ambiente e saúde”, veiculado às quartas-feiras pelo programa saúde no ar.  Chico Whitaker, um dos convidados da “Tenda do bem viver”, durante o Fórum Social Mundial, realizado em Salvador, entre 13 e 17 de março, falou sobre o tema. Ouça o comentário na integra.

 

Foto: Internet

Fonte:  Arquiteto e Ativista Social – Comissão de Justiça e Paz

Redação Saúde no ar .

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