SUS deve continuar fornecendo remédio contra esclerose múltipla?

SUS deve continuar fornecendo remédio contra esclerose múltipla?

Acaba nesta terça-feira (21.07), a consulta pública prazo para que a classe médica e a população, em geral, opinem se o medicamento betainterferona 1a (Avonex) deve continuar sendo fornecido gratuitamente na rede pública.

O medicamento é utilizado para controlar a esclerose múltipla e cada dose custa R$ 1.500,00. A consulta pública está aberta desde o início de julho, através do site conitec.gov.br.,e caso a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) decida pela exclusão, cerca de três mil brasileiros, conforme laboratório que fabrica remédio, terão que buscar outras opções terapêuticas, correndo o risco de apresentar novos surtos e complicações.

— Mudar um tratamento que está dando certo é uma insensatez — diz a secretária Marly Thomaz, de 59 anos, que há nove usa o medicamento.
Não tenho como bancar esse tratamento.

A betainterforena 1a, desenvolvida pela Biogen, está incluída no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da esclerose múltipla do Ministério da Saúde desde 2002, como terapia padrão. Atualmente, afirma o laboratório, 20% dos pacientes brasileiros em tratamento na rede pública utilizam o medicamento, indicado para o tipo mais frequente de esclerose múltipla, a remitente-recorrente.

— A betainterferona foi o primeiro remédio que usei quando recebi o diagnóstico de esclerose múltipla e perdi o movimento de um braço. Desde então, nunca mais apresentei surtos. Minha doença está controlada e sigo vivendo normalmente, trabalhando. Muitos portadores de esclerose múltipla se aposentam por causa das sequelas e ganham muito pouco. Como essas pessoas poderiam comprar um remédio cuja dose custa mais de mil reais? — questiona Marly.

A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica do sistema nervoso central que afeta o cérebro e a medula espinhal e que interfere na capacidade do cérebro e da medula espinhal para controlar funções, como caminhar, enxergar, falar, urinar e outras. Não tem cura e o remédio é para evitar a sua progressão.

A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) estima que, atualmente 35 mil brasileiros são portadores de esclerose múltipla. A doença incide geralmente entre 20 e 50 anos de idade, predominando entre as mulheres em 3.1.

O Ministério da Saúde alega que a consulta pública está sendo realizada porque “uma ampla revisão de trabalhos científicos publicada recentemente não demonstrou eficácia desse medicamento”, mas especialistas na área discordam dessa afirmação:

“Esses estudos foram feitos por laboratórios que estão lançando drogas novas e têm interesses envolvidos. Não se pode perguntar ao pai da criança qual é o filho mais bonito. Cada um vai dizer que é o dele,”, afirma o médico Sérgio Novis, o professor de neurologia da UFRJ e membro da Academia Nacional de Medicina.

Para o professor de neurologia da UFF, André Matta, a retirada da betainterferona 1a do SUS seria um grande equívoco, já que a medicação mostrou ter, em diferentes estudos científicos, eficácia comparável a de outros imunomoduladores disponíveis no mercado. Os imunomoduladores atuam no sistema imunológico reduzindo a atividade inflamatória desencadeada no cérebro e na medula espinal pela doença.

— Esses remédios são injetáveis. A betainterferona é o único administrado uma vez por semana. Os demais têm aplicação diária, em dias alternados ou três vezes por semana, o que prejudica a adesão do paciente ao tratamento — avalia Matta.

Na foto, o cientista Stephen Hawking que tem outro tipo de esclerose, a Lateral Amiotrófica. Ele recebeu o diagnóstico em 1964 quando tinha 21 anos.

Fonte: Olhar Direto/MT
A.V.

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