Dessalinização, o fim da falta de água

Dessalinização, o fim da falta de água

Em tempos de seca, o processo de dessalinização dos oceanos volta à tona com o surgimento de novas tecnologias. O Brasil, cuja região Nordeste, especialmente, vive a tragédia da seca há centena de anos, sem que nenhuma providência definitiva seja tomada para amenizar o sofrimento dos nordestinos seria um dos mais beneficiados com  esse tipo de tecnologia.
Afinal, o litoral brasileiro banhado pelo oceano Atlântico tem 7.367 km  e poderia chegar a 9.200 km se forem consideradas as saliências e reentrâncias do litoral.

Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície da Terra e contêm 97% da água do planeta e várias usinas de dessalinização estão sendo abertas ao redor do mundo, ficando a maior delas em Tel Aviv, Israel já estando sendo ampliada para alcançar seus limites máximos de produção, o que significa 624 milhões de litros diários de água potável. A usina pode vender mil litros (o consumo semanal médio de uma pessoa) por US$ 0,70 (cerca de R$ 2,71).

Contudo, a usina israelense está perto de ser desbancada por outra usina de dessalinização que fica em Ras al-Khair, na Arábia Saudita, e que alcançará sua produção plena em dois meses. Essa usina, que será a maior do mundo, poderá produzir 1 bilhão de litros por dia. Uma usina de energia elétrica que seja vinculada a ela pode produzir até 2,4 milhões de watts de eletricidade.

A energia necessária para esse processo era muito custosa e inviabilizava o uso da água do mar para esses fins, porém graças às novas tecnologias, os custos foram reduzidos à metade e aumentaram o número de enormes usinas de dessalinização abertas no mundo.Em San Diego, no estado americano da Califórnia, por exemplo, está sendo construída a maior usina dessalinizadora dos Estados Unidos, que estará operando a partir de novembro.

No Brasil, está sendo  estudado o método de dessalinização capacitiva, ou  ‘deionização capacitiva’ que já existem nos Estados Unidos e na Europa, mas são uma novidade por aqui. Essa pesquisa, inédita na América Latina, está sendo estudada pelo professor Luis Augusto Martins Ruotolo, da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo e que age da mesma forma que a dessalinização com energia solar, com custos que já reduziram o triplo em 15 anos. Os estudos estão voltados ao desenvolvimento de um processo mais barato para a transformação da água salobra em potável, auxiliando regiões como o semiárido nordestino.

Método tradicional

Conforme pesquisas, ométodo tradicional de transformar água do mar em água potável é aquecê-la e depois recolher a água evaporada como um destilado puro, o que demanda uma grande quantidade de energia, mas pode se  tornar possível se combinado com usinas industriais que produzem calor em seu funcionamento normal.

As novas dessalinizadoras da Arábia Saudita estão sendo construídas juntamente com usinas de energia exatamente por esse motivo.Essa osmose reversa utiliza menos energia e deu uma nova oportunidade a uma tecnologia que existe desde os anos 1960.

Basicamente, o sistema consiste em empurrar a água salgada através de uma membrana de polímero que contém furos minúsculos, do tamanho de um quinto de nanômetro.Esses orifícios são suficientemente pequenos para bloquear as moléculas de sal e suficientemente grandes para permitir a passagem das moléculas de água.

Conforme o cientista da Universidade de Swansea, no Reino Unido, Nidal Hilal, “ esta membrana remove completamente os sais minerais da água”, porém essas membranas poderiam entupir facilmente, o que prejudicaria muito o desempenho do processo. Uma tecnologia mais avançada de materiais e técnicas de tratamento prévio, descobertas recentemente, que fazem com que essas membranas funcionem com maior eficiência por mais tempo. Em Israel, os cientistas conseguiram poupar energia usando vasos de pressão com o dobro do tamanho.

Método alternativo

A osmose direta é uma forma alternativa de eliminar sal da água do mar, segundo o professor Nick Hankins, engenheiro químico da Universidade de Oxford. Em vez de empurrar a água através da membrana, uma solução concentrada é utilizada para extrair o sal.
Depois, essa solução é eliminada restando apenas a água pura. “É possível separar a água do sal usando bem pouca energia”, assegura o professor.
Outro método possível é a chamada dessalinização capacitiva que, basicamente, significaria ter um ímã para atrair o sal.

“Deveríamos ser capazes de dessalinizar a água usando algo entre a metade e a quinta parte da energia usada para a osmose reversa”, diz Michael Stadermann, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, da Califórnia.

A  técnica ainda está em fase de testes, mas existe uma preocupação sobre o que fazer com o sal que sobra. A água no Golfo Pérsico historicamente tem 35 mil partículas de sal por milhão (ppm). Mas segundo o Ministério do Meio Ambiente e da Água, algumas áreas próximas às usinas chegam a ter 50 mil ppm.

“É preciso garantir que a água muito salgada seja deslocada para um local suficientemente longe do mar para que não haja recirculação dessa água, porque, se isso acontecer, ela voltará ainda mais salgada”, disse Floris van Straaten, da empresa de engenharia suíça Pöyry, que supervisiona a construção do projeto Ras al-Khair.

“Nossa usina está sendo instalada ao lado de uma usina de energia que usa a água do mar para refrigeração”, diz Jessica Jones, da Poseidon Water, empresa que está construindo a usina de Carlsbad na Califórnia.”Nosso descarregamento é misturado, mas, no momento em que ele entra no oceano, o sal já está dispersado.”

Mas, enquanto a dessalinização já avançou enormemente nos países ricos, também é necessário que chegue às regiões pobres, que são as que mais sofrem com a falta de água. Outra questão é que grupos ecologistas já começaram a questionar o processo no EUA, lutando nos tribunais contra a construção de novas usinas de dessalinização, dizendo que as consequências da reintrodução da salmoura no mar ainda não foram estudadas o suficiente.

“Quando a água está sendo extraída do oceano, ela traz peixes e outros organismos. Isso tem um impacto ambiental e econômico”, explica Wenonah Hauter, diretor da Food And Water Watch em Washington. Ele não deixa de ter razão.

A ONU prevê que, em 10 anos, quase 2 bilhões de pessoas viverão em regiões com escassez de água, vivendo com menos de mil metros cúbicos de água cada uma.Mais de dois quintos da população de 800 milhões do continente africano vivem em regiões de “estresse hídrico”, o que significa viver com o fornecimento de menos de 1.700 metros cúbicos de água por pessoa.
Tudo o que essas regiões mais precisam é de um dispositivo de dessalinização que possa abastecer cada 100 ou 200 pessoas.

Método capacitivo

A solução pode estar na dessalinização capacitiva que está sendo estudada na Universidade Federal de São Carlos, no estado de São Paulo.  O professor Luis Augusto Martins Ruotolo(foto) está desenvolvendo uma pesquisa inédita na América Latina para a dessalinização da água, baseado na ‘deionização capacitiva’ .
Rutuolo pesquisa tratamentos da água desde o mestrado.  Começou estudando a remoção de metais pesados, depois remoção de poluentes orgânicos e, em um pós-doutorado nos Estados Unidos, foi convidado  a estudar a dessalinização (retirada do sal para produzir água potável).
Segundo Ruotolo,  o processo consiste no uso de placas (eletrodos) de carbono que, mediante a aplicação de uma  baixa voltagem (1,2V), removem o sal (NaCl), retendo-o sobre a superfície dos eletrodos. Eletrodos positivos atraem o cloreto – Cl (íon de carga negativa), eletrodos negativos atraem o sódio – Na (íon de carga positiva) e a água sai dessalinizada. “O processo remove os íons (partículas eletricamente carregadas) da água e ela fica limpa”, afirmou.

Mais simples que osmose reversa

A diferença do procedimento, desenvolvido em parceria com o professor Marc Anderson, da University of Wisconsin-Madison (EUA), o mestrando Rafael Linzmeyer Zornitta e com  o pesquisador espanhol Júlio José Lado Garrido está nos custos. “A deionização capacitiva é mais simples do que a osmose reversa, sua maior concorrente, não requer muita manutenção e consome pouca energia, o que permitiria o uso de painéis solares fotovoltáicos. E a luz solar é abundante no semiárido”, comentou Ruotolo.
Segundo o professor, o governo já instalou equipamentos de osmose reversa para dessalinização da água salobra no semiárido, mas muitos estão parados devido à dificuldade de manutenção. “A gente espera que empresas e que o governo se interessem pela tecnologia. Nos EUA, por exemplo, a Marinha financia pesquisas para ter água potável nos navios”.

*Redação Portal Saúde no Ar

O jornalismo independente e imparcial com informações contextualizadas tem um lugar importante na construção de uma sociedade , saudável, próspera e sustentável. Ajude-nos na missão de difundir informações baseadas em evidências. Apoie e compartilhe

Send a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.