A tragédia da educação na Bahia 1

A tragédia da educação na Bahia 1

Artigo publicado na Tribuna da Bahia, 04/06/2020

​Ao jovem e inteligente amigo Gercino Coelho!

​A consequência mais benéfica desta inquietante pandemia é a percepção geral da importância da educação no desempenho da vida das pessoas e dos povos. Adensa-se, portanto, a consciência de que a educação é o caminho mais curto entre a pobreza e a prosperidade, o atraso e o desenvolvimento. Por essa razão, dedicaremos alguns artigos para abordar aspectos dessa relevante questão, tendo em vista, sobretudo, o estágio de tragédia social que o ensino público alcançou em nosso Estado, sem que os representantes dos mais importantes segmentos de nossa sociedade, inclusive as oposições, tenham manifestado qualquer reação perceptível, por mínima que seja. É como se nada de grave estivesse acontecendo, quando, na verdade, os males futuros advindos da educação de má qualidade que hoje praticamos serão muito mais danosos para a vida das pessoas do que os acarretados pela hipótese mais grave da Covid 19. Registre-se, por oportuno, que não há memória de uma oposição tão omissa e por isso conivente com esse estado de coisas, como a atual, que reage com uma complacência bovina, como se nada de grave estivesse acontecendo. Rediga-se, enfaticamente, que é trágico o futuro que aguarda as gerações dos baianos pobres que hoje se encontram em seu alvorecer, de um modo que compromete o futuro de todo o Estado.
​Para começar, impõe-se reconhecer que o Governo atual não é o único responsável por este momento calamitoso que vivemos, embora seja sua a responsabilidade por não reagir, como deveria, de um modo expressivo de uma inquietação reveladora de que sabe o problema que isso representa para o presente e o futuro imediato dos baianos. Ao contrário, o Governo atua como se nada mais lhe coubesse desempenhar do que o papel de coveiro a quem cabe sepultar as esperanças coletivas! Postura singularmente incompatível com o que se espera do Governador do Estado que sabe, por experiência própria, que a educação é o caminho do êxito, tanto que foi ela que o conduziu do bairro da Liberdade ao Palácio de Ondina, ainda que surfando a onda populista que levou ao poder o Partido dos Trabalhadores.
​O atual Governo tem à sua disposição, para uso imediato, e a custos que representam uma fração mínima do que se gasta hoje, o Projeto Edux, elaborado ao longo de muitos anos pelo respeitado professor de Física Marival Chaves. Esse projeto foi submetido ao crivo e aprovado, com louvor, por inúmeras personalidades de grande relevo em nossa vida educacional, política, intelectual e econômica, a exemplo de Roberto Santos, Jaques Wagner, Mário Kertesz, João Leão, Lídice da Mata, José Sarney Filho, Manoel Vitório, Fausto Franco, Marcelo Nilo, Jutahy Magalhães Júnior, Otto Alencar Filho, José Andrade Mendonça, Naomar Almeida, Cristóvam Buarque de Holanda, Ângelo Calmon de Sá, Lourenço Mueller, Nestor Duarte Neto, Carlos Sodré, Walter Pinheiro, Aloísio Mercadante, José Mendonça Filho, Ana Lúcia Gazzola, Valdir Raupp, Confúcio Moura, Jerônimo Rodrigues, Danilo de Castro, Luís Mendonça, Luiz Caetano, Josué Mello, José Nilton Carvalho e muitos mais.
​O então Governador Jaques Wagner reconheceu que o Projeto Edux era mais importante para o desenvolvimento brasileiro do que o Pré-sal, por isso que o recomendou ao então secretário da Educação Oswaldo Barreto que nada fez. Pouco tempo depois, já no Governo Ruy Costa, numa reunião com o vice-governador João Leão, o Secretário Oswaldo Barreto declarou que, por ele, o Projeto Edux já estaria em operação. Sentia-se, porém, impotente para vencer as forças que a ele se opunham. (Leia-se, o Sindicato dos Professores, que, apesar de reconhecer as inegáveis qualidades do Projeto para alavancar a educação na Bahia, a ele se opõe por temor de que venha a reduzir o poder de greve da categoria. O futuro da juventude que se exploda!).
​A percepção dominante é a de que o Governador Ruy Costa, como de resto os candidatos vitoriosos do PT em todo o País, chegou ao poder com os votos da maioria iletrada, como tão bem demonstrado pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, em seu livro O voto do brasileiro, razão porque prefere seguir o aforismo segundo o qual “não se mexe em time que está ganhando”.
​As conveniências eleitorais do PT, porém, colidem frontalmente com os interesses do povo brasileiro, sobretudo na sociedade do conhecimento em que estamos imersos, razão pela qual, como vimos fazendo há décadas, dedicaremos este espaço, nas próximas semanas, para aprofundar a análise dos fatores que vêm entravando a elevação da qualidade da educação em nosso Estado, onde, ao que parece, a oposição ao governo revela-se passiva e solidária com essa intolerável situação que condena à pobreza e ao crime os jovens carentes de hoje.

Joaci Góis – Presidente da Academia de Letras da Bahia

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